segunda-feira, 27 de outubro de 2014

5 - Câncer de Pulmão

Já vimos como funcionam os cânceres em nível molecular. Daremos início hoje a uma série de publicações sobre cânceres específicos, tentando abordar suas sintomatologia, tratamento e alguns casos clínicos. Hoje falaremos sobre câncer de pulmão. Na sequência teremos postagens sobre leucemia, câncer de colo de útero, pele, próstata e finalizaremos falando sobre o câncer de mama. Boa leitura a todos.


Câncer de pulmão é a principal causa de morte por câncer, tanto em homens quanto em mulheres, nos Estados Unidos, sendo responsável por 28% de todas as mortes por câncer, em cada ano. No Brasil ele também assume essa dianteira.

O estudo epidemiológico do câncer de pulmão nos EUA detalhou:
1 - Idade e Sexo
A incidência idade-específica no homem foi máxima na idade de 75 a 79 anos e nas mulheres na idade de 70 a 74.
2 - Raça
O risco de câncer em homens negros é 50% maior que em homens brancos. Enquanto que o risco para mulheres negras é de 10 a 20% maior que em mulheres brancas.
3- "Status" sócio-econômico
Vários estudos demonstram associação inversa entre mortalidade e status sócio-econômico

Os fatores de risco são:
1 - Fumantes ativos
2 - Fumantes passivos
3 - Pessoas expostas a Randônio
4 - Trabalhadores expostos a substâncias carcinogêncas
5 - Pessoas com pré-disposição genética

Como mais de 85% dos pacientes com câncer de pulmão morrem nos primeiros cinco anos pós-diagnóstico, a importância do diagnóstico precoce, em estágio inicial, principalmente no estágio I, onde a sobrevivência é de 60 a 90% com o tratamento cirúrgico, deve ser realçada. A presença de sintomas é sinal de mal prognóstico.

O tratamento inclui cirurgia, quimioterapia e/ou radioterapia. Geralmente, demanda a combinação de cirurgia com quimioterapia ou radioterapia. Em alguns casos, pode ser utilizada a fototerapia dinâmica a laser, que consiste em injetar medicações que posteriormente serão ativadas com laser.

Referências:
http://www.revistas.usp.br/rmrp/article/view/7673/0
http://drauziovarella.com.br/dependencia-quimica/tabagismo/cancer-de-pulmao/

terça-feira, 21 de outubro de 2014

4 - Oncogenes

Um oncogene é um gene que, quando mutado ou expresso em níveis anormalmente elevados, contribui para a conversão de uma célula normal numa célula cancerosa. As células cancerosas são células que estão envolvidas na mitose descontrolada.

Os sinais para a mitose normal:
- As células normais de crescimento em cultura não vão dividir a menos que elas sejam estimuladas por um ou mais fatores de crescimento presentes no meio de cultura. 
Exemplo: Fator de Crescimento Epidérmico (EGF).
- O fator de crescimento se liga ao seu receptor, uma proteína de membrana integral incorporada na membrana plasmática com o seu local de ligação ao ligante exposto na superfície da célula.
Exemplos: 
O Fator de Crescimento Epidérmico Receptor (EGFR). O gene que a codifica, EGFR, é também conhecido como HER1. 
Outro receptor de factor de crescimento é codificada pelo gene ERBB2 (também conhecido como HER2.)
- A ligação de um fator de crescimento ao seu receptor desencadeia uma cascata de eventos de sinalização no interior do citosol. Muitos destes envolvem 
   - Quinases - enzimas que ligam grupos fosfato a outras proteínas. Exemplos: As proteínas codificadas por SRC, RAF, ABL, e a proteína de fusão codificada pelo BCR / ABL encontrados na leucemia mielóide crónica (LMC). 
   - Ou moléculas que se ligam quinases. Exemplo: RAS. Moléculas RAS residem na superfície interna da membrana do plasma onde eles servem de ligação para activação do receptor quinase "a jusante" como RAF.
- Na maioria dos casos, a fosforilação ativa a proteína e, eventualmente, transfere o sinal para o núcleo.
- Aqui fosforilação ativa fatores de transcrição que se ligam a promotores e potenciadores de DNA, transformando em seus genes associados.
- Alguns dos genes ligados por estes factores de transcrição codificam outros factores de transcrição.
Exemplo: myc.

REFERÊNCIAS:
Bioquímica médica básica de Marks / Colleen Smith, Allan D. Marks, Michel Lieberman ; tradução Ângela de Mattos Dutra ... [et al.] – 2.ed. – Porto Alegre : Artmed, 2007.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

3 - Causas de Câncer


O câncer é um termo aplicado a um conjunto de doenças nas quais as células não respondem mais aos controles de crescimento. Uma única célula que se divide de forma anormal, eventualmente forma uma massa chamada de tumor. Um tumor pode ser benigno e não-lesivo, como a verruga comum, por exemplo. Uma neoplasia maligna (tumor maligno) é uma proliferação de células de crescimento rápido que progressivamente infiltram, invadem e destroem o tecido circundante e podem sofrer metástase.

A transformação de uma célula normal em célula cancerosa inicia com a lesão do DNA. Essa lesão pode ser causada por carcinógenos químicos (como foi mostrado na postagem anterior), por luz UV, vírus ou erro de replicação. As mutações que podem levar às transformações ocorrem em genes que regulam a proliferação e a diferenciação celular (estes são chamados de proto-oncogenes), suprimem o crescimento (chamados de genes supressores de tumor), direcionam as células irreparavelmente lesadas para apoptose ou reparam o DNA lesado.

Em resumo, o câncer é causado pelo acúmulo de mutações em genes envolvidos no crescimento e na diferenciação normal. Essas mutações dão origem a células cancerosas capazes de proliferação desregulada autônoma e infinita. Uma alteração na estrutura química do DNA, ou das sequências de base de um gene é, portanto, um requisito absoluto para o desenvolvimento de câncer.

Mas, como ocorrem essas lesões de DNA que levam a mutações?

A função do DNA depende da presença de vários grupos químicos polares nas bases de DNA, capazes de formar pontes de hidrogênio entre as fitas ou outras reações químicas. Os átomos de oxigênio e Nitrogênio nas bases de DNA são alvos de uma variedade de eletrófilos. Carcinógenos químicos podem reagir com esses eletrófilos causando mutação no DNA. As alterações estruturais no DNA também ocorrem por meio de radiação e luz UV, a qual causa a formação de dímeros de pirimidina.

Outra forma de mutação que aumenta a velocidade de crescimento das células é a amplificação de seus proto-oncogenes. Essa amplificação é o aumento de cópias do gene na célula. Se mais genes estão ativos, mais proteínas do proto-oncogene será produzida, aumentando a velocidade de crescimento das células.

Um vírus oncogênico que infecta a célula também aumenta a capacidade de tal célula se dividir. O oncogene do vírus pode ser integrado ao genoma da célula hospedeira, permitindo a produção de proteínas do oncogene anormal. A célula pode ser transformada e exibir um padrão anormal de crescimento. Em vez de inserir um oncogene o vírus pode simplesmente inserir um promotor forte no genoma da célula hospedeira

Por último, e não menos importante, as mutações em enzimas de reparo são, também, causas de câncer. A lesão no DNA está ocorrendo constantemente por exposição à luz do sol, radiação ambiental basal, toxinas e erros de replicação. Se as enzimas de reparo de DNA estão ausentes, as mutações se acumulam de forma muito mais rápida, e uma vez que uma mutação se desenvolve em um gene regulador de crescimento, pode se originar um câncer.

REFERÊNCIAS:
Bioquímica médica básica de Marks / Colleen Smith, Allan D. Marks, Michel Lieberman ; tradução Ângela de Mattos Dutra ... [et al.] – 2.ed. – Porto Alegre : Artmed, 2007.

sábado, 11 de outubro de 2014

2 – Carcinógenos químicos e promotores de tumor

Existe uma relação direta entre certos produtos químicos e a formação de tumor. Eles reagem com a molécula de DNA do ser vivo causando, assim, mutações. Essas mutações podem levar a formação de tumores. Baseados nisso, toxicologistas procuraram por químicos com a capacidade de causar tumores de pele em ratos. Para fazer esse teste, um químico foi aplicado no dorso depilado de um animal. Os químicos aplicados se dividiram em dois grupos:
Grupo I – Iniciadores. Causou mutações no DNA.
Grupo II – Aumentou bastante a probabilidade que as células tinham de desenvolver tumor.
                Os compostos do grupo II ativam uma proteína quinase (fosforiladora). Essas proteínas normalmente são ativadas transitoriamente só quando as células normais são estimuladas a crescer. Os promotores de tumor, no entanto, levam a uma ativação aumentada da proteína-quinase C.
                Bruce Ames desenvolveu um teste rápido e simples para determinar quando químicos são mutagênicos. O teste básico usa bactérias que tem mutação em um gene necessário para a biossíntese de histidina e requerem histidina para o crescimento. As bactérias são tratadas com os químicos a serem testados, e o número que pode crescer na ausência de histidina é medido. As bactérias que não precisam de histidina mais para crescer devem ter adquirido uma segunda mutação, quimicamente induzida, que se opõe à inativação, mutação original. Dessa forma a capacidade dos químicos de alterar o DNA pode ser determinada.
                É muita antiga a observação de que a exposição dos seres humanos a determinadas substâncias presentes no meio ambiente ou no seu local de trabalho pode levar ao desenvolvimento de câncer. Já no final do século XVIII foi relatado que a ocorrência de câncer de escroto em limpadores de chaminés poderia está relacionada com a deposição de fuligem e alcatrão nas pregas escrotais. Posteriormente foi mostrado que a aplicação repetida de alcatrão de hulha na pele de animais leva ao eventual desenvolvimento de tumores malignos no sítio da aplicação. Hoje sabemos que o alcatrão da hulha contém hidrocarbonetos aromáticos carcinogênicos, como o benzeno[α]pireno.
                Atualmente os carcinógenos químicos compreendem um grupo muito diversificado de moléculas orgânicas e inorgânicas, com funções químicas variadas e que são capazes de promover processos neoplásicos em tecidos específicos. Algumas destas drogas podem estar presentes nas atividades diárias do homem e as indústrias representam a principal fonte de novos compostos químicos, potencialmente cancerígenos.
Comentário Clínico:
O câncer de pulmão atualmente corresponde a um quinto de todos os cânceres em homens e um décimo em mulheres. A taxa geral de sobrevida em cinco anos é menor do que 15%. Para aqueles que fumam dois ou mais maços de cigarro por dia, como faz Nick O’Tyne, a taxa de morte é 265 por 100.000 pessoas.

Fontes:
Bioquímica médica básica de Marks / Colleen Smith, Allan D. Marks, Michel Lieberman ; tradução Ângela de Mattos Dutra ... [et al.] – 2.ed. – Porto Alegre : Artmed, 2007.

Ana Paula M. Loureiro, Paolo Di Mascio e Marisa H. G. Medeiros. FORMAÇÃO DE ADUTOS EXOCÍCLICOS COM BASES DE DNA: IMPLICAÇÕES EM MUTAGÊNESE E CARCINOGÊNESE. Scielo. http://www.scielo.br/pdf/qn/v25n5/11409.pdf. 5 de outubro de 2014.


sábado, 4 de outubro de 2014

1 - Introdução ao tema: doenças e estatísticas

É de grande importância iniciar a série de postagens quebrando uma verdade que ainda existe na cabeça de milhares de brasileiros. Não é câncer. São cânceres. Colocar esta palavra no plural é fundamental para que as pessoas vejam que nenhum câncer é igual ao outro. Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo.
                Esse padrão de crescimento aberrante resulta de mutações em genes que regulam a proliferação, a diferenciação e a sobrevivência de células em organismos multicelulares. Devido a essas alterações genéticas, as células cancerosas não respondem mais ao controle de crescimento das células normais.
                O câncer é a principal causa de mortalidade no mundo e o número total de casos aumenta, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Ainda, a OMS estima que em 2030 haja 27 milhões de novos casos de câncer, 17 milhões de mortes e 75 milhões de casos prevalentes por ano. Os países mais atingidos serão os em desenvolvimento. Em um relatório do ano passado, oncologistas europeus estimaram aumento da incidência de câncer nos países em desenvolvimento e que dos 12,4 milhões de novos casos diagnosticados em 2008, metade foi nas regiões de fraca e média renda.
Em países desenvolvidos, predominam-se os cânceres de pulmão, mama, próstata e cólon. Em países em desenvolvimento, os tipos mais prevalentes são de estômago, fígado, cavidade oral e colo do útero. Entretanto, esse padrão de divisão tem mudado rapidamente ao longo dos anos, de forma que se torna definir o tipo de câncer com base no nível de desenvolvimento do país.
No Brasil, devido à enorme extensão territorial e diferenças culturais entre as regiões, os tipos de câncer se distribuem de maneira heterogênea. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), estima-se quase 520 mil novos casos de câncer, incluindo os casos de câncer de pele não melanoma. Os tipos mais incidentes serão os cânceres de pele não melanoma, próstata, pulmão, cólon, reto e estômago para o sexo masculino e os cânceres de pele não melanoma, mama, colo do útero, cólon, reto e glândula da tireóide para as mulheres.

Nos limitaremos nessa postagem a fazer uma abordagem geral sobre o câncer. Com o decorrer das publicações adentraremos nesse micromundo pra tentar entender como, a grosso modo, podemos preveni-los, conviver com eles e sobreviver a eles.